Artigo de Opinião: “Meu Deus, é possível tanta beleza?”

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Foto: Reprodução Internet
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Após ver “Entre rios, pequenos mundos e aguaceiros”, documentário dirigido por Moysés Chama e lançado no último dia 12, as perguntas que ficam ressoando são as seguintes:

O que o rio Paraná representa para nós que tivemos a benção de viver à beira de suas margens?

Por que devemos cuidar dele e valorizá-lo?

Estaria sua sustentabilidade de alguma maneira ameaçada?

Nesse documentário, feito com o “olhar de amor, carinho e cuidado”, como comentou a jornalista Francielle Seidl, em artigo publicado neste jornal, Moysés Chama procura oferecer várias respostas interessantes, sob olhares que refletem realidades diferentes, porém complementares.

Por meio da articulação de imagens, depoimentos, poemas e canções, o diretor lança reflexão para desenvolver a sensibilidade para os vários sentidos que o rio Paraná pode adquirir para nós.

Sob o olhar de um pescador, o rio é visto como fonte de alimentos e lugar de entretenimento e lazer. Quantas memórias afetivas ele proporciona para as famílias?

Sob o olhar econômico, ganha relevo o potencial do rio como oportunidade de desenvolvimento do turismo ecológico, fonte de renda que movimenta a economia local. Quantos empregos podem ser produzidos com a pesca esportiva do tucunaré?

Sob o olhar da ciência, que vê os grandes e fascinantes movimentos da natureza, o rio adquire um significado mais complexo: ele sustenta o delicado equilíbrio da fauna e flora e presta inestimáveis serviços ambientais. Que cuidado temos com ele e qual a importância de sua sustentabilidade?

Sob o olhar penetrante da poesia, o rio não apenas fertiliza os campos e proporciona alimentos, mas também refresca o corpo e alivia o coração. É esperança do pescador, o encanto do apaixonado, o grande espelho das noites de lua cheia, como diz um dos poemas encenados no documentário.

É possível acrescentar ainda o olhar do historiador para ressaltar um fato interessante: a identidade das populações locais foi formada na intimidade com o rio Paraná.  Assim como Rubineia e Santa Fé do Sul, Aparecida do Taboado formou-se ao redor do porto Taboado, entre a Ilha Grande e o ribeirão de Santa Quitéria, e desenvolveu-se com os olhos postos nas potencialidades do rio. Somos, de fato, como o documentário sugere, um povo que vive “entre rios” e que, em torno deles, cria “pequenos mundos”.

Com mensagens variadas, o documentário é lançado em momento oportuno, quando muitos veem a sustentabilidade do rio Paraná ameaçada pela poluição. Seria uma preocupação exagerada? Nesse debate sensível, que inspirou a criação da associação SOS Rio Paraná e pautou a eleição municipal de Aparecida do Taboado em 2020, o documentário não deixa de registrar um protesto contundente contra o “plano indecente” de matar o rio com os “fétidos excrementos de cobiça, gana e féu” que “profanam nosso éden tão querido”.

Para além das questões políticas, a grande mensagem do documentário talvez seja aquela transmitida pelo próprio diretor sob a forma de espanto ao contemplar o rio Paraná: “Meu Deus, é possível tanta beleza?”

Marcos Vinicios de Araujo Vieira, de Aparecida do Taboado, é diplomata de carreira.

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